Entre os dias 16 e 22 de setembro, está sendo realizada a Semana Somos Um, em nossa Arquidiocese. Nesses dias, recebemos irmãos de várias partes do mundo para um encontro fraterno. Católicos e Evangélicos de diversas denominações estarão reunidos em oração, com a profunda convicção de que a unidade é a resposta em tempos divididos. A semana é parte do calendário oficial da cidade do Rio de Janeiro e é reconhecida como patrimônio cultural e imaterial do Estado. Temos também entre nós um representando do dicastério que trabalha como ecumenismo.
Este artigo foi extraído do jornal Testemunho de Fé, órgão oficial de comunicação da Arquidiocese do Rio de Janeiro, página 28. O texto é de autoria do Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, Dom Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist.
A semana deste ano tem como tema motivador a passagem do Livro dos Atos dos Apóstolos: “Eram perseverantes na oração” (Atos 2,42). Este versículo nos transporta para os primeiros dias da Igreja cristã. Após o Pentecostes, a pequena comunidade dos seguidores de Jesus viveu um tempo de profundo fervor espiritual, marcado por uma prática contínua de oração, comunhão fraterna e estudo dos ensinamentos dos apóstolos. Essa perseverança na oração é uma virtude central que orientou e sustentou a caminhada da Igreja desde o início e continua sendo fundamental para nós, hoje, especialmente em um contexto de encontro ecumênico.
Nesta ocasião, temos também a oportunidade de refletir sobre o significado e a importância da perseverança na oração em nossas vidas como cristãos, independentemente de nossas tradições específicas, e como essa prática pode nos unir no espírito de Cristo, fortalecendo o testemunho de unidade e amor ao mundo.
Depois de receberem o Espírito Santo no Pentecostes, os discípulos de Jesus começaram a viver de maneira nova e radical, formando uma comunidade de fé centrada em quatro pilares fundamentais: o ensino dos apóstolos, a comunhão, a fração do pão e as orações. O versículo “eram perseverantes na oração” faz parte dessa descrição de uma vida comunitária plena, onde a oração era um aspecto central.
A oração não era algo ocasional ou secundário; ela era a base da vida espiritual dos primeiros cristãos. Eles oravam juntos constantemente, em suas casas e no templo, buscando estar sempre em comunhão com Deus. A perseverança na oração fortalecia a fé da comunidade e lhes dava força para enfrentar as dificuldades e perseguições que logo surgiriam.
Ser perseverante na oração não significa apenas orar em momentos de necessidade ou em ocasiões especiais. A palavra “perseverança” sugere uma continuidade, um esforço prolongado, uma dedicação que não esmorece diante das dificuldades. A oração perseverante é uma prática diária, constante, que molda nosso relacionamento com Deus e transforma nossa vida interior.
Essa perseverança é essencial porque a oração é o canal pelo qual abrimos nosso coração à graça de Deus. Através dela, crescemos na intimidade com o Senhor, somos fortalecidos em nossa caminhada e encontramos sabedoria para enfrentar os desafios da vida. A oração também nos ajuda a discernir a vontade de Deus e nos conformar mais plenamente com os Seus propósitos.
Além disso, perseverar na oração é um ato de fé. Quando continuamos a orar, mesmo quando as respostas de Deus parecem demoradas ou diferentes do que esperávamos, demonstramos nossa confiança de que Ele está conosco e age em nossas vidas. A perseverança na oração nos ensina a depender de Deus em todas as circunstâncias, não apenas quando tudo vai bem, mas também nos momentos de dúvida, dor e incerteza.
Na ocasião de um encontro como este, dentro da tradição ecumênica de nossa arquidiocese, e apoiados pela Comissão das Igrejas Cristãs do Rio de Janeiro, o tema da perseverança na oração assume uma dimensão ainda mais profunda, pois nos recorda que, como seguidores de Cristo, somos chamados a nos unir em oração, independentemente de nossas tradições e denominações. A oração é o grande ponto de encontro entre as tradições religiosas, uma linguagem universal que transcende barreiras.
Quando oramos juntos, estamos expressando nossa fé comum em Cristo e nossa busca conjunta por Sua vontade. Essa prática nos ajuda a construir pontes de compreensão, reconciliação e paz entre nossas diferentes tradições. A oração é um dos testemunhos vivos de que, apesar de nossas diferenças, partilhamos a mesma fé em um Deus que é amor e que nos chama à unidade.
A perseverança na oração também nos ensina a cultivar a paciência e a humildade, virtudes necessárias para o diálogo e a construção de unidade. No caminho ecumênico, a oração nos recorda que a verdadeira unidade não vem simplesmente de esforços humanos, mas é um dom de Deus que devemos buscar com coração aberto e disposto à transformação.
Hoje, mais do que nunca, somos chamados a perseverar na oração. Vivemos em um mundo marcado por rápidas mudanças, divisões e crises que desafiam nossa fé e nossa capacidade de viver em comunhão. A oração, assim como foi para os primeiros cristãos, é a chave para enfrentarmos esses desafios com coragem e esperança.
Em nossa caminhada comum, a oração nos ajuda a permanecer focados no que é essencial: a busca pela unidade em Cristo. Ao perseverarmos juntos na oração, damos testemunho ao mundo de que é possível superar divisões e construir pontes de amor e entendimento. Quando nos reunimos em oração, reafirmamos nossa fé em um Deus que é maior do que nossas diferenças e que nos chama a ser instrumentos de paz e reconciliação.
Além disso, a oração perseverante é uma fonte de força para a missão. Assim como os primeiros cristãos, que, fortalecidos pela oração, saíam para anunciar o Evangelho com ousadia, também nós somos chamados a evangelizar e a ser luz no mundo. A perseverança na oração nos dá o discernimento e a coragem necessários para testemunhar o amor de Cristo em nossos ambientes.
Que possamos, seguindo o exemplo dos primeiros cristãos, ser perseverantes na oração, orando juntos como irmãos e irmãs em Cristo, buscando sempre a vontade de Deus em nossas vidas e em nossas comunidades. Que a oração nos una e nos fortaleça, para que possamos ser sinais visíveis da unidade e do amor de Deus no mundo.